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quinta-feira, 9 de junho de 2011

CRESCENTE

CRESCENTE

Da terra firme vi,
pela primeira vez,
a água salgada do oceano atlântico.
“-Água à vista!”
Mas não era azul, não era água comum.
Era vermelha e cheirava a banzo, gemidos, passados.
Era colorida, enfeitada e perfumada de flores e de barcos também.
Da cidade eu vi o oceano cantar. Vi navegando estrelas e algas. Tabuleiro e especiarias.
Vi muito azul e muito bordado. Vi panos, palhas, dendê, pemba e manjericão.
De cá da cidade, bem distante, vi homens fortes, crianças, mulheres amamentando
e celebrando a vida. De verdade, celebravam a vida com cantos, danças, melodias, sons e frenesi.
Vi a terra comer, saborear com a natureza tudo que há em nós. Oferendas.
Vi axé, segredos, mistérios, humanização e naturalidades. Vi explodir forças, energias diversas. Incorporações. Vi Yemanjá, Oxum e Nanã. Prisma. Luzes.
Vi muitas Áfricas naquele grande rio de água salgada. Água parada e viva. Água movimentada.
Eu vi!
E quis falar palavras, sílabas, sons, sinais, mas não podia. Eu estava envolvido, inebriado, encabulado, pasmo. Eu não era mais eu.
Eu vi que as folhas que lambiam a água salgada cresciam mais fortes, brilhantes e se transformavam em melanina vermelha, preta e branca. Misturas. Terra nova. Brasilidade. Afrobrasilidade. Eu estava enlouquecido com tudo isso que eu vi. Eu era folhas.
Eu vi a água ser contada de histórias boas e más. Vi a liberdade conquistada com garra, impetuosidade, ousadia e marcas. Vi grupos articularem, em segredo, em silêncio, o seu grito de luta. Candomblés. Quilombos. Mocambo.
Bem de cima de terra firme, eu vi o oceano mudar de cor. Agora, multifacetando para o azul. Era o meu azul, o que eu tanto quis buscar no meu olhar.
Da terra firme, eu vi o oceano atlântico se revelar e escrever histórias verdadeiras do meu passado. As ondas, letradas, escreviam, ainda, em letras cursivas, a nossa história na beira da praia, com espuma e sal.
Ricardo Dantas – 2011- Inédito

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Poeminha


A cidade crescendo
interrompia o silêncio
das paredes
de minha história.

Ricardo Dantas - Inédito
08/06/2011